Rating: 2.6/5 (446 votos)








 

glee mini

 supernatural mini

 dexter mini

Banner

Canal FOX Brasil

Banner



Barroco no Brasil

Barroco no Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Retábulo da Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife.

barroco, no Brasil, foi introduzido no início do século XVII pelosmissionários católicos, especialmente jesuítas, que trouxeram o novo estilo como instrumento de doutrinação cristã. O poema épico Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, é um dos seus marcos iniciais. Atingiu o seu apogeu na literatura com o poeta Gregório de Matos e com o orador sacro Padre Antônio Vieira, e nas artes plásticas seus maiores expoentes foram Aleijadinho, naescultura, e Mestre Ataíde, na pintura. No campo da arquitetura esta escola floresceu notavelmente no Nordeste, mas com grandes exemplos também no centro do país, em Minas GeraisGoiás e Rio de Janeiro. Na música, ao contrário das outras artes, sobrevivem poucos mas belos documentos do barroco tardio. Com o desenvolvimento do neoclassicismo a partir das primeiras décadas do século XIX a tradição barroca, que teve uma trajetória de enorme vigor no Brasil e foi considerada o estilo nacional por excelência, caiu progressivamente em desuso, mas traços dela seriam encontrados em diversas modalidades de arte até os primeiros anos do século XX.

Índice

 [mostrar]

Características e contexto

O modelo europeu e sua transferência para o Brasil

Arte das Missões jesuíticas, de herança espanhola e italiana: São Francisco XavierMuseu Júlio de Castilhos.

O Barroco foi um estilo de reação contra o classicismo do Renascimento, cujas bases conceituais giravam em torno da simetria, da proporcionalidade e da contenção, racionalidade e equilíbrio formal. Assim, sua estética primou pela assimetria, pelo excesso, pelo expressivo e pela irregularidade, tanto que o próprio termo "barroco", que nomeou o estilo, designava uma pérola de formato bizarro e irregular. Além de uma tendência puramente estética, esses traços constituíram uma verdadeira forma de vida e deram o tom a toda a cultura do período, uma cultura que enfatizava o contraste, o conflito, o dinâmico, o dramático, o grandiloquente, a dissolução dos limites, junto com um gosto acentuado pela opulência de formas e materiais, tornando-se um veículo perfeito para a Igreja Católica da Contra-Reforma e as monarquias absolutistas em ascensão expressarem visivelmente seus ideais. As estruturas monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os grandes teatros e igrejas, buscavam criar um impacto de natureza espetacular e exuberante, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o observador numa atmosfera catártica e apaixonada. Assim, para Sevcenko, nenhuma obra de arte barroca pode ser analisada adequadamente desvinculada de seu contexto, pois sua natureza é sintética, aglutinadora e envolvente. Essa estética teve grande aceitação na Península Ibérica, em especial em Portugal, cuja cultura, além de essencialmente católica e monárquica, estava impreganada de milenarismo e do misticismo herdado dos árabes e judeus, favorecendo uma religiosidade caracterizada pela intensidade emocional. E de Portugal o movimento passou à sua colônia na América, onde o contexto cultural dos povos indígenas, marcado pelo ritualismo e festividade, forneceu um pano de fundo receptivo.[1][2]

O Barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura autóctone já lançara sementes. O Barroco não foi, assim, o veículo inaugural da cultura brasileira, o Maneirismo cumpriu o papel de iniciador, mas floresceu ao longo da maior parte de sua curta história "oficial" de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabelecer uma economia auto-sustentável - contra uma natureza selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis - até onde permitisse sua condição de colônia pesadamente explorada pela metrópole. O território conquistado se expandia em passos largos para o interior do continente, a população de origem lusa ainda mal enraizada no litoral estava em constante estado de alerta contra os ataques de índios pelo interior e piratas por mar, e nesta sociedade em trabalhos de fundação se instaurou a escravatura como base da força produtiva.[3]

São Pedro papa, obra-prima da escola portuguesa.Museu de Arte Sacra de São Paulo.

Nasceu o Barroco, pois, num terreno de luta, mas não menos de deslumbramento diante da paisagem magnífica, sentimento que foi declarado pelos colonizadores desde início.[4] Florescendo nos longos séculos de construção de um novo e imenso país, e sendo uma corrente estética e espiritual cuja vida está no contraste, no drama, no excesso, talvez mesmo por isso pôde espelhar a magnitude continental da empreitada colonizadora deixando um conjunto de obras-primas igualmente monumental. O Barroco, então, confunde-se com, ou dá forma a, uma larga porção da identidade e do passado nacionais; já foi chamado de a alma do Brasil.[5] Significativa parte desta herança em arte, tradições e arquitetura hoje é Patrimônio da Humanidade.

O Barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências européias e locais, embora em geral coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto econômico em que o Barroco se desenvolveu na colônia era completamente diverso daquele que lhe dava origem na Europa. Aqui o ambiente era de pobreza e escassez, com tudo ainda por fazer. Por isso o Barroco brasileiro já foi acusado de pobreza e incompetência quando comparado com o europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado e sobretudo branco, apesar de todo ouro nas igrejas nacionais, pois muita coisa é de execução tecnicamente tosca, feita por mão escrava ou morena. Mas esse rosto impuro, mestiço, é que o torna único e inestimável.[6][7]

Um índio anônimo no século XVII produziu esteCristo açoitado, hoje noMuseu de Arte Sacra de Pernambuco, onde se percebe uma pletora de influências estilísticas exóticas.
Anônimo: Êxtase de Santa Teresa, Igreja do Convento do Carmo, São Cristóvão. A espontaneidade naïf é uma característica de grande parte do barroco brasileiro.

Também é preciso assinalar que o barroco se enraizou no Brasil com certo atraso em relação à Europa, e este descompasso, que se perpetuou por toda sua trajetória, por vezes ajudou a mesclar, de forma imprevista, elementos estilísticos que se desenvolviam localmente com outros externos mais atualizados que estavam em constante importação. Os religiosos ativos no país, muitos deles literatos, arquitetos, pintores e escultores, e oriundos de diversos países, contribuíram para esta complexidade trazendo sua variada formação, que receberam em países como EspanhaItália e França, além do próprio Portugal. O contato com o oriente, via Portugal e as companhias navegadoras de comércio internacional, também deixou sua marca, visível nas chinoiseries que se encontram ocasionalmente nas decorações e nas estatuetas em marfim.[3]

Como exceção interessante, existe um pequeno acervo de obras de arte realizadas exclusivamente por índios ou em colaboração com os padres catequistas, fenômeno ocorrido no âmbito das Reduções jesuíticas do sul e em casos pontuais no Nordeste. Por fim, mas não menos importante, está o elemento popular e inculto, tantas vezes naïf, evidente em boa parte da produção local, já que os artistas com preparo sólido eram poucos e os artesãos autodidatas ou com pouco estudo eram a maioria do criadores, pelo menos nos primeiros dois séculos de colonização. Neste cadinho de tendências são detectados até elementos de estilos já obsoletos como o gótico na obra de mestres como o Aleijadinho. O resultado de todos estes entrecruzamentos e mesclas é o acervo original e riquíssimo que hoje se vê espalhado em praticamente todo o litoral do país, desde o extremo sul no Rio Grande do Sul até o norte, tocando o Pará. Para dentro, o estilo derramou-se por São Paulo e Minas Gerais, onde se exprimiu com a característica elegância rococó, e alcançou o Centro-Oeste deixando jóias como as encontradas em Goiás.[3][8]

No início do século XVIII, o Barroco brasileiro conseguiu uma face relativamente unificada, no chamado "estilo nacional português", cujas raízes eram de fato italianas, sendo adotado sem grandes variações nas diversas regiões, e a partir de 1760, por influência francesa, se suavizou no Rococó, bem evidente nas igrejas de Minas Gerais. No fim do século XVIII o Barroco brasileiro já se encontrava perfeitamente "nacionalizado", tendo dado inumeráveis frutos anteriores de alto valor, e apareceram as figuras célebres que o levaram a uma culminação, e que iluminaram em grande estilo também o seu fim como corrente estética dominante: Aleijadinho na arquitetura e na escultura, e na pintura Mestre Ataíde. Eles epitomizam uma arte que havia conseguido amadurecer e se adaptar ao ambiente de um país tropical e dependente da Metrópole, ligando-se aos recursos e valores regionais e constituindo um dos primeiros grandes momentos de originalidade nativa, de brasilidade genuína. Demonstrando possuírem grande força plástica e expressiva, tornaram-se ícones da cultura nacional. O grande ciclo de onde surgiram foi logo depois abruptamente interrompido com a imposição oficial da novidade neoclássica de inspiração francesa, no início do século seguinte.[3]

O papel da Igreja Católica

Na Europa a Igreja Católica foi, ao lado das cortes, a maior mecenas de arte neste período. Na imensa colônia do Brasil não havia corte, a administração local era confusa e morosa, assim um vasto espaço permanecia vago para a ação da Igreja e seus batalhões de intrépidos, capazes e empreendedores missionários, que administravam além dos ofícios divinos uma série de serviços civis como os registros de nascimento e óbito, estavam na vanguarda da conquista do interior do território servindo como pacificadores dos povos indígenas e fundando novas povoações, organizavam boa parte do espaço urbano no litoral e dominavam o ensino e a assistência social mantendo muitos colégios e orfanatos, hospitais e asilos. Construindo grandes templos decorados com luxo, encomendando peças musicais para o culto e dinamizando imensamente o ambiente cultural como um todo, e é claro ditando as regras na temática e na maneira de representação dos personagens do Cristianismo, a Igreja centralizou a arte colonial brasileira, com rara expressão profana notável. No Brasil, então, quase toda arte barroca é arte religiosa. A profusão de igrejas e escassez de palácios o prova. Costa faz lembrar ainda que o templo católico não era apenas um lugar de culto, mas era o mais importante espaço de confraternização do povo, um centro de transmissão de valores sociais básicos e amiúde o único local seguro na muitas vezes turbulenta vida da colônia. Gradativamente houve um deslocamento neste equilíbrio em direção a uma laicização, mas não chegou a se completar no período de vigência do Barroco. As instituições leigas começaram a ter um peso maior por volta do século XVIII, com a multiplicação de demandas e instâncias administrativas na colônia que se desenvolvia, mas não chegaram a constituir um grande mercado para os artistas, não houve tempo. A administração civil ganhou força com a chegada da corte portuguesa em 1808, que transformou o perfil institucional do território, mas impediu uma continuidade do Barroco pelo seu apoio declarado ao Neoclassicismo.[9][10][11]

Igreja de São Francisco, Salvador.
Capela de N. S. das Dores, Matriz de Santo Antônio, Recife, com bilhetes e ex-votos deixados pelos fiéis.

Assim como em outras partes do mundo onde existiu, o barroco foi no Brasil um estilo movido pela inspiração religiosa, mas ao mesmo tempo de enorme ênfase na sensorialidade e na riqueza dos materiais e formas, num acordo tácito e ambíguo entre glória espiritual e êxtase carnal. Este pacto, quando as condições permitiram, criou algumas obras de arte de enorme complexidade formal, que nos fazem admirar a perícia do artesão e a inventividade do projetista - amiúde anônimos e de extrato popular. Basta uma entrada num dos templos principais do Barroco brasileiro, seja em Minas, seja em Salvador, para os olhos de pronto se perderem num quebra-cabeças de formas e cores, onde as imagens dos santos são emolduradas por resplendores, cariátides, anjos, guirlandas, colunas e entalhes em volume tal que não deixam um palmo quadrado de espaço à vista sem intervenção decorativa, num luxo materialista onde foi gasto muito ouro. Como disse Germain Bazin"para o homem deste tempo, tudo é espetáculo".[12]

Entenda-se essa prodigalidade decorativa na perspectiva geral da época, quando o religioso educava as almasem direção à apreciação das virtudes abstratas buscando seduzí-las antes pelos sentidos materiais, especialmente através da beleza das formas. Mas tanta riqueza também era um tributo devido a Deus, por Sua própria glória. Apesar da denúncia do luxo excessivo pelos Reformistas, e da recomendação de austeridade pelo Concílio de Trento, o Catolicismo na prática ignorou as restrições, pois compreendia que "a arte pode seduzir a alma, perturbá-la e encantá-la nas profundezas não percebidas pela razão; que isso se faça em benefício da fé"'.[13]

Esse cenário luxuriante era parte da própria essência da catequese católica durante o Barroco, largamente influenciada pelos preceitos jesuíticos. A retórica barroca, base para todo o ensino, tinha um sentidocenográfico e declamatório, e se expressava cheia de hipérboles e outras figuras de linguagem, num discurso de largo vôo e minuciosa argumentação, às vezes até excessiva para o gosto moderno. Tal característica se traduziu plasticamente na extrema complexidade da obra de talha e na agitada e convoluta movimentação das formas estatuárias e arquiteturais das igrejas barrocas em todos os países onde o estilo prosperou, pois era uma faceta básica do prolixo espírito da época expressa visualmente, e que no Brasil se manifestou do mesmo modo, como não poderia deixar de fazê-lo.[14]

Além da beleza de formas o Catolicismo durante o Barroco se valeu com ênfase do aspecto devocional, e o amor e a compaixão eram visualmente estimulados pela representação dos momentos mais dramáticos da história sagrada, e assim abundam os Cristos açoitados, as Virgens com o coração trespassado de facas, oscrucifixos sanguinolentos, as patéticas imagens de roca articuladas e com cabelos e vestes reais que se levavam em procissões solenes e feéricas onde não faltavam as lágrimas e os pecados eram confessados em alta voz. Mas essa mesma devoção, que tantas vezes adorou o trágico, plasmou também inúmeras cenas de êxtase e visões celestes, e outras tantas Madonnas de graça ingênua e juvenil e encanto perene, e doces Meninos Jesus, cujo apelo ao coração simples do povo era imediato e sumamente efetivo. Novamente Bazin captou a essência do processo dizendo que "a religião foi o grande princípio de unidade no Brasil. Ela impôs às diversas raças aqui misturadas, trazendo cada uma um universo psíquico diferente, um mundo de representações mentais básico, que facilmente se superpôs ao mundo pagão, no caso dos índios e dos negros, através da hagiografia, tão adequada para abrir caminho ao cristianismo aos oriundos do politeísmo".[15]

Arquitetura

Os primeiros edifícios sacros de algum vulto do Brasil foram erguidos a partir da segunda metade do século XVI, quando algumas vilas já dispunham de população que o justificasse. Foram os casos de Olinda e Salvador. As mais simples empregaram a técnica do pau-a-pique, sendo cobertas com folhas de palmeira, mas desde logo os jesuítas se preocuparam com o aspecto da durabilidade e solidez dos edifícios, preferindo sempre que possível edificar com pedra e cal, embora muitas vezes, por circunstâncias várias, foram obrigados a usar a taipa de pilão ou o adobe. As plantas buscavam antes de tudo a funcionalidade, compondo basicamente um quadrilátero sem divisão em naves e sem capelas laterais, com uma fachada elementar que implantava um frontão triangular sobre uma base retangular, e pode-se dizer que não havia nesse período inaugural qualquer preocupação com ornamentos. Em 1577 chegou a Salvador o frei e arquiteto Francisco Dias, com a missão declarada de introduzir melhoramentos técnicos e um refinamento estético nas igrejas da colônia. Trazia a influência de Vignola, cujo estilo caíra no agrado da corte portuguesa, e fora o autor do primeiro templo barroco na Europa, a Igreja de Jesus, em Roma, que se tornou imediatamente um modelo para muitas outras igrejas jesuítas pelo mundo. No Brasil o modelo foi adaptado, prescindindo da cúpula e do transepto, mantendo o esquema da nave única, mas por outro lado se favoreceram as torres.[16]

Igreja de S. Francisco, João Pessoa, uma cópia quase literal da igreja de Cairú.
Igreja de São Francisco, Salvador.
Matriz de Santo Antônio, Recife.

Apesar das melhorias os edifícios jesuítas até meados do século XVII, concentrados no nordeste, se mantiveram externamente em contornos de grande simplicidade, no que influenciaram os das outras ordens religiosas, reservando para os interiores o luxo que foi possível acrescentar em altares entalhados, pinturas e estatuária. Entretanto, se os jesuítas se mantiveram bastante fiéis ao modelo original, os franciscanos se permitiram introduzir variações interessantes nas fachadas, que podiam ser precedidas de um alpendre, ou incluir uma galilé, enquanto que ocampanário se deslocava para trás. No interior a capela-mor franciscana tendia a ser menos profunda do que a jesuítica, e a ausência de naves laterais podia ser compensada por doisdeambulatórios longitudinais estreitos. Nesse modelo é a Igreja de São Francisco em Cairú, considerada a primeira a exibir um Barroco puro, já despido da influência maneirista. Seu autor, o frei Daniel de São Francisco, criou uma fachada escalonada, num esquema triangular, com volutas fantasiosas no frontão e nas laterais; foi uma completa novidade, sem paralelos mesmo na Europa.[17][18] Com a dominação holandesa no nordeste muitas das edificações católicas foram destruídas, e na segunda metade do século XVII, após a explusão dos invasores, o esforço principal se concentrou na restauração e reforma das estruturas pré-existentes, com relativamente poucas fundações novas.[17]

Mas então o estilo barroco já predominava em todos os aspectos e recebia a influência deBorromini, emprestando-se mais movimento às fachadas com a adição de volutas no frontão, aberturas em arco, gradis, relevos e óculos. Nos interiores a decoração também ganhava em riqueza, mas os esquemas eram algo estáticos, organizados em áreas compartimentalizadas, os chamados caixotões ou cofres, com retábulos providos de colunas torcidas revestidas de folhagens, aves e anjos, interligadas por arquivoltas no mesmo padrão, com grande homogeneidade estilística. Ilustrativa dessa transição é a Igreja de São Francisco de Salvador, e sua talha dourada, luxuriante, cobre inteiramente todas as superfícies internas do templo, com impactante efeito de conjunto. Abrindo o século XVIII a talha começou a desenvolver um relevo mais alto, projetando-se tridimensionalmente do plano da parede, com caráter estatuário e arquitetônico, apresentando cariátides, anjos e guirlandas, coroamentos com sanefas e falsos cortinados, revestidos com policromia ou em branco e dourado, definindo o chamado estilo joanino, cujas feições mais importantes são a progressiva integração entre estatuária e talha, e a presença de dosséis de coroamento nos altares [19]

Ao mesmo tempo as fachadas adquiriram mais verticalidade e movimento, com aberturas em formas inusitadas - pera, losango, estrela, oval ou círculo - os frontões, mais curvas, relevos emcantaria e estatuária, e as plantas começaram a aparecer com formas poligonais ou elípticas. Exemplos são a Basílica de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de Santo Antônio, em Recife, e em Salvador a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.[20] Um fenômeno um tanto diferente se verificou nas Reduções do sul, embora neste período aquele território ainda pertencesse à Espanha. Lá as construções mostraram desde logo um caráter mais monumental em suas fachadas, e com uma maior variedade de soluções estruturais, com pórticoscolunatasfrontispícios elaborados. Ao mesmo tempo, se desenvolveu um notável programa urbanísticopara o aldeamento dos indígenas. Hoje em ruínas, parte desse núcleo de arquitetura civil e religiosa sulina foi declarado Patrimônio Mundial.[17]

A partir de meados do século XVIII a influência portuguesa, que filtrava a espanhola e italiana, deu lugar à francesa, gerando um Rococó cujo maior florescimento ocorreu em Minas Gerais, se caracterizando pelos retábulos com coroamento de grande composição escultórica com elementos ornamentais como conchas, laços, grinaldas e flores, revestimentos com fundos brancos e douramentos nas partes em relevo. No exterior dos edifícios se percebe um aligeiramento nas proporções, tornando-os mais elegantes, as aberturas são mais amplas, permitindo uma maior penetração da luz externa, e o detalhamento nos relevos em pedra chegou a alto nível. Em Minas destacam-se a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Matriz de Nossa Senhora do Pilar, a Igreja de São Pedro dos Clérigos, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de São Francisco, talvez a obra máxima de Aleijadinho, com torres circulares de coruchéu em forma de capacete, óculo obturado por relevo, e frontispício imponente. Além de Ouro Preto, o núcleo mais rico, diversas cidades mineiras possuem exemplares significativos de arquitetura rococó, entre elas Sabará,SerroMarianaTiradentes, e também Congonhas, onde existe o grande complexo arquitetônico do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, local que abriga ainda o mais importante grupo de esculturas de Aleijadinho.[3][21]

O Rococó também deu belos frutos no nordeste, na Matriz de Santo Antônio, com esplêndida talha nos altares, e no Convento e Igreja de São Francisco em João Pessoa, considerado por Bazin a mais perfeita dentre as construções franciscanas Rococó do Nordeste brasileiro, embora seja uma adaptação quase literal do projeto do templo de Cairu, 50 anos mais antigo.[22] No Rio é notável a Igreja do Carmo.

Na arquitetura civil, privada ou pública, o barroco deixou relativamente poucos edifícios de maior vulto, sendo em linhas gerais bastante modestos, cuja ornamentação se resume em arcos nas aberturas, ocasionalmente algum trabalho de cantaria ou de azulejaria, e alguma pintura decorativa no interior. Mas os conjuntos dos centros históricos de algumas cidades (SalvadorOuro PretoOlindaDiamantinaSão Luís e Goiás), declarados Patrimônio Mundial pela UNESCO, ainda permanecem em boa parte intactos, apresentando uma paisagem ininterrupta extensa e valiosíssima de arquitetura urbana do barroco, com farta ilustração de todas as adaptações do estilo aos diferentes estratos sociais e às suas transformações ao longo dos anos. Do reduzido número de exemplos civis significativos se destacam a antiga Casa da Câmara e Cadeia de Ouro Preto, hoje o Museu da Inconfidência, com uma rica e movimentada fachada onde há um pórtico com colunas, escadaria de acesso, uma torre, estátuas ornamentais e estrutura em pedra, a Casa da Câmara e Cadeia de Mariana, a Câmara de Salvador, e o Paço Imperial no Rio, que foi a residência da família real.

O caso mineiro

Minas teve a peculiaridade de ser uma área de povoamento mais recente, e pôde-se construir em estéticas mais atualizadas, no caso, o Rococó, e com mais liberdade, uma profusão de igrejas novas, sem ter de adaptar ou reformar edificações mais antigas já estabelecidas e ainda em uso, como era o caso no litoral, o que as torna exemplares no que diz respeito à unidade estilística. O conjunto rococó das igrejas de Minas tem uma importância especial tanto por sua riqueza e variedade como por ser testemunho de uma fase bem específica na história brasileira, quando a região foi a "menina dos olhos" da Metrópole por suas grandes jazidas de ouro e diamantes.[3] A arquitetura barroca mineira é interessante por se realizar geralmente em um terreno acidentado, cheio de morros e vales, dando uma forma atraente à urbanização das cidades. Mas não é isso o que torna o Barroco mineiro especial, já que a construção civil segue modelos formais comuns a toda arquitetura colonial brasileira. Entretanto, o caso mineiro tem o atrativo de constituir o primeiro núcleo no Brasil de uma sociedade eminentemente urbana.[23] De qualquer forma, suas características estilísticas distintivas são mais claramente expressas na arquitetura religiosa, nas igrejas que proliferam em grande número em todas essas cidades. Segundo Telles, a originalidade da edificação sacra mineira está em dois elementos:

  • "a conjugação de curvas e de retas ou de planos, criando pontos e arestas de contenção, nas plantas, nos alçados e nos espaços internos e;
  • "a organização das frontarias tendo como centro de composição a portada esculpida em pedra-sabão; portadas que se constituem, visualmente, em núcleo, de onde derivam os demais elementos: pilastras, colunas, cimalhas, frontão, e para a qual eles convergem. Essas portadas, por outro lado, mostram-se plasticamente dinâmicas, fortes, enquanto que, na realidade, são constituídas de elementos opostos às paredes de alvenaria caiadas de branco, ao gosto do rococó".[24]

Contudo, tais elementos só vieram a uma consumação perto do final do ciclo. No início do século as igrejas ainda derivavam suas plantas da matriz maneirista, com desenho retangular, fachada austera e frontão triangular, modelo exemplificado na Catedral de MarianaPedro Gomes Chavesintroduziu em 1733 inovações importantes na Matriz do Pilar em Ouro Preto, com uma planta retangular mas cuja talha redefinia o espaço interno na forma de um decágono.[25] Originais de fato, sem precedentes tanto na arquitetura brasileira como na portuguesa, foram as igrejas projetadas por Antônio Pereira de Sousa Calheiros, com destaque para a do Rosário dos Pretosem Ouro Preto, com planta composta de três elipses encadeadas, fachada circular com uma galilé de três arcos, e com torres circulares.[26] Da mesma época é a fachada do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, cujo frontispício lavrado em pedra-sabão é tido como o primeiro exemplo dessa solução decorativa, obra possivelmente de Jerônimo Félix Teixeira. Na segunda metade do século foi construída a Igreja do Carmo de Ouro Preto, com uma composição de fachada ainda mais ousada: O plano frontal cedeu lugar para uma parede ondulada, com torres circulares em recuo e óculo trilobado. Traçada por Manuel Francisco Lisboa, seu plano foi alterado em 1770 por Francisco de Lima Cerqueira, e o Aleijadinho esculpiu a portada. Aleijadinho, junto com Cerqueira, se tornaram os arquitetos mais importantes da região e de todo o Barroco brasileiro, e suas obras são a súmula das novidades que distinguem o Barroco de Minas Gerais. Aliás, a contribuição de Cerqueira tem sido recentemente reavaliada, concedendo-lhe a ele um papel muito importante na arquitetura barroca de Minas, talvez maior mesmo que o de Aleijadinho. A Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto é atribuída ao Aleijadinho, embora não haja documentação a respeito. Sabe-se porém que o plano original sofreu alterações de Cerqueira, e de certeza é do Aleijadinho apenas a escultura da portada. De qualquer forma o templo é uma jóia de harmonia entre exterior e interior, e suas soluções são de grande originalidade, incorporando até mesmo traços de estilos antigos como o Gótico e o Renascentista. De qualidade semelhante é a Igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei, da qual sobrevive um traçado do Aleijadinho que não corresponde exatamente ao que se vê hoje, tendo havido intervenção novamente de Francisco Cerqueira.[27][28]

Pintura e escultura

Ver artigos principais: Pintura no Brasil e Escultura do Brasil.

pintura e a escultura barrocas se desenvolveram como elementos auxiliares, embora fundamentais, para obtenção do efeito cenográfico total da arquitetura sagrada que era erguida, todas as especialidades conjugando esforços em busca de um resultado sinestésicoarrebatador. Uma vez que a arte barroca é essencialmente narrativa, cabe mencionar os principais grupos temáticos cultivados no Brasil. O primeiro é extraído do Antigo Testamento, oferecendo visualizações didáticas da cosmogênese, da criação do Homem e dos fundamentos da fé dados pelos patriarcas hebreus. O segundo grupo deriva do Novo Testamento, centralizado em Jesus Cristo e sua doutrina deSalvação, temática elaborada através de muitas cenas mostrando seus milagres, suas parábolas, sua Paixão e Ressurreição, elementos que consolidam e justificam o Cristianismo e o diferenciam da religião judaica. O terceiro grupo gira em torno dos retratos de autoridades da Igreja, os antigos patriarcas, os mártires, santos e santas, os clérigos notáveis, e por fim vem o grupo temático do culto mariano, retratando a mãe de Jesus em suas múltiplas invocações.[29]

Pintura

José Joaquim da Rocha: Glorificação dos Santos Franciscanos, Igreja do Convento de S. Antônio, João Pessoa.

As primeiras pinturas criadas do Brasil foram realizadas sobre pranchas de madeira, em um estilo proto-barroco ou maneirista, e subsidiárias à decoração em talha. Apareceram em meados do século XVII em edifícios das ordens religiosas, como o Convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro, e o Convento de São Francisco, em Olinda, dos mais antigos do país, mas a maioria destes primeiros trabalhos se perdeu em incêndios ou em modernizações posteriores. Sobrevivem também, da mesma época, alguns raríssimos exemplos da técnica do afresco no Mosteiro de São Bento no Rio, redescobertos durante uma restauração recente, e na Igreja dos Terésios emCachoeira do Paraguaçú, estes do jesuíta Carlos Belleville, mas não há registro de disseminação da técnica ou de continuadores.[30] Algumas dessas obras pioneiras eram ex-votos, de fatura rústica, encomendados pelos devotos a artesãos populares em paga por alguma graça recebida ou em penhor de alguma promessa. Os ex-votos tiveram um papel importante no primeiro desenvolvimento da pintura colonial por constituírem uma prática frequente, o que se explica pelo cenário ainda selvagem onde as povoações se organizavam, e onde não faltavam perigos de várias ordens contra os quais a invocação aos poderes celestes para a ajuda e proteção era constante.[31]

Quase ao mesmo tempo artistas holandeses da corte de Maurício de Nassau realizaram em tela, em Pernambuco, notáveis documentos da terra e da gente local através da técnica requintada e minuciosa de Frans Post e Albert Eckhout. Foram também as primeiras grandes obras profanas da pintura brasileira. Contudo, a maioria dessas telas deixou o país junto com seus autores quando voltaram à Holanda, e sua única influência local perdurou talvez em frei Eusébio da Soledade, considerado o fundador da escola baiana de pintura. Salvo estes holandeses, a pintura barroca nacional foi praticada quase exclusivamente no terreno sacro, ainda que não raro se incluíssem nas composições trechos paisagísticos, cenas de costumes e retratos profanos.[32][33] Também neste período inicial surgiram Baltazar de Campos, que chegou aoMaranhão em 1661 e produziu telas sobre a Vida de Cristo para a sacristia da Igreja de São Francisco Xavier, e João Felipe Bettendorff, também no Maranhão, decorando as igrejas de Gurupatuba e Inhaúba. Outros nomes que merecem nota são o frei Ricardo do Pilar, com uma técnica que se aproxima da escola flamenga e autor de um esplêndido Senhor dos Martírios, mais Lourenço Veloso, formado em Lisboa, Domingos RodriguesJacó da Silva Bernardes e Antonio Gualter de Macedo, que atuaram em diversos locais entre Pernambuco e Rio de Janeiro.[30][33]

O século seguinte viu a pintura florir em inumeráveis igrejas em todas as regiões do país, formando os germes de escolas regionais, ainda que por mãos em grande parte anônimas. Em 1732 Caetano da Costa Coelho introduziu na capela-mor da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência do Rio a primeira pintura de perspectiva arquitetural ilusionística no Brasil, uma técnica que logo ganhou muitos adeptos e teve uma culminação com José Joaquim da Rocha no teto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, entre 1773 e 1774. Outros nomes foram Domingos da Costa FilgueirasJesuíno do Monte CarmeloAntônio Simões RibeiroManuel da CunhaManuel de Jesus Pinto e João de Deus Sepúlveda estes dois últimos deixando bela decoração na Concatedral de São Pedro dos ClérigosJosé Eloy, em Olinda, e José Leandro de Carvalho, no Rio, já mostram um estilo perfeitamente Rococó. José Teófilo de Jesus foi figura singular, um dos maiores representantes da escola baiana, de talento superior e com um estilo polifacetado, abordando também temas mitológicos ealegóricos, cujas obras de maior vulto surgiram já no século XIX, permanecendo em atividade até cerca de 1847, pouco tocado pelo Neoclassicismo. Em Minas trabalharam muitos artistas, como Manuel Rebelo e SouzaJoaquim José da NatividadeBernardo PiresJoão Nepomuceno Correia e Castro, e a presença maior foi Mestre Ataíde, o último grande mestre da pintura barroca brasileira e um nome importante do Rococó internacional. É interessante ainda o belo acervo remanescente de azulejaria pintada, em boa parte importado de Portugal, mas que não obstante deu uma nota característica em inúmeros conventos, igrejas e casarios barrocos brasileiros.[30][33]

Escultura

O Barroco originou uma vasta produção de estatuária sacra, disseminada por todo o litoral e em algumas regiões do interior do Brasil. Parte integral da prática religiosa, a estatuária devocional encontrava espaço tanto no templo como no domicílio privado. As primeiras peças barrocas do país eram de importação portuguesa, e vieram com os missionários. Ao longo de todo o Barroco a importação de obras continuou, e muitas das que ainda existem em igrejas e coleções museais são de procedência européia. Mas a partir do século XVII começaram a se formar escolas conventuais locais de escultura, compostas principalmente por religiosos franciscanos e beneditinos, mas com alguns artesãos laicos, que trabalhavam principalmente o barro. Já os jesuítas deram preferência à madeira. Índios reduzidos também deram sua colaboração como santeiros, especialmente nas reduções do sul e em algumas do nordeste, e nesses casos muitas vezes traços étnicos índios são encontrados no rosto das imagens. Criados aqui ou não, dificilmente haveria uma casa que não possuísse ao menos algum santo de devoção esculpido, e a estatuária se tornou um bem de largo consumo, quase onipresente, com exemplares de grande porte até peças miniaturizadas para uso prático em viagens. Salvador em especial tornou-se um centro exportador de estatuária para os mais distantes pontos do país, criando uma escola regional de tanta força que não conheceu solução continuidade senão no século XX. Outra escola nordestina importante foi a de Pernambuco, com produção de alta qualidade mas ainda pouco estudada. A maioria das obras que sobrevivem permanece anônima; não costumavam ser assinadas e as análises de estilo muitas vezes não são suficientes para se determinar com precisão sua origem, uma vez que a iconografia seguia padrões convencionados que valiam por toda parte e a circulação de obras pelo país era grande, mas alguns nomes foram preservados pela tradição oral ou através de recibos de pagamento de obras.[34][35]

Aleijadinho: Cristo no Horto das Oliveiras, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas.

Com a sedimentação da cultura nacional por volta da metade do século XVIII e com a multiplicação de artífices mais capazes, nota-se um crescente refinamento nas formas e no acabamento das peças, e aparecem imagens de grande expressividade, ora quase sempre em madeira. Entretanto, a importação de estatuária diretamente de Portugal continuou e mesmo cresceu com o enriquecimento da colônia, uma vez que as classes superiores preferiam exemplares mais bem acabados e de mestres mais eruditos. Ao mesmo tempo se multiplicaram as escolas regionais, com destaque para as do Rio, São Paulo, Maranhão, Pará, e Minas, onde a participação do negro e do mulato foi essencial e onde se desenvolveram traços típicos regionais mais distintos que podiam incorporar elementos estilísticos arcaizantes ou de várias escolas em sínteses ecléticas. Aleijadinho representa o coroamento e a derradeira grande manifestação de escultura barroca brasileira, com obra magistral espalhada na região de Ouro Preto, especialmente as obras no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, compondo uma série de grandes grupos escultóricos nas capelas das estações da Via Crucis e os célebres Doze Profetas, no adro daquela igreja.[34] Alguns outros autores merecem nota: Agostinho de Jesus, ativo no Rio e São Paulo, e frei Agostinho da Piedade, de Salvador, considerados os fundadores da escultura brasileira; José Eduardo GarciaFrancisco das Chagas, o CabraFélix Pereira Guimarães eManuel Inácio da Costa, ativos em Salvador; Francisco Xavier de Brito, atuando entre Rio e Minas, Manoel da Silva Amorim, em Pernambuco, Bernardo da Silva, da escola maranhense,Simão da Cunha e Mestre Valentim, no Rio de Janeiro. Na escola de Minas, Francisco Vieira ServasJosé Coelho NoronhaFelipe VieiraValentim Correa Paes e Bento Sabino da Boa Morte, entre outros.[35]

A estatuária barroca por regra era pintada com cores vivas e não raro com douramentos, e decorada com ornamentos acessórios como coroas e resplendores em prata e ouro, que podiam ser cravejados de pedras preciosas. Também podiam ser colocados olhos de vidro, dentes de marfim e vestidos de tecido, e as grandes estátuas de roca, que se levavam em procissões, podiam ter cabelos reais, a fim de enfatizar seu aspecto ilusionístico, e membros articulados, para possibilitar seu uso em representações teatrais sacras. Para a pintura a imagem em material bruto recebia uma camada de um preparo à base de argila e cola, conhecido como "bolo armênio", que preenchia os poros da madeira ou do barro e criava uma superfícia lisa para o trabalho posterior. Se a imagem fosse ter douramento, as finíssimas folhas de ouro eram aplicadas em seguida, podendo ser polidas para realçar o brilho, ou não, criando um dourado fosco. O pratemento era mais raro, e mais custoso, pois não havia minas de prata no Brasil e o material era obtido da fundição de moedas peruanas. Sobre o ouro ou prata era aplicada a tinta, óleo ou têmpera oleosa, e para que o metal subjacente aparecesse era removida nas partes necessárias com estiletes ou com um ponteador, o que possibilitava o desenho de intrincados padrões florais ou abstratos. A pintura do rosto, mãos, pés ou outras partes do corpo à mostra se chamava "encarnação", e como o nome sugere, almejava o efeito da carne humana; a decoração do vestuário se denominava "estofamento". Nos exemplares em marfim, mais raros, o material podia ser deixado aparente.[36][37]

Quando uma imagem se deteriorava podia ser descartada, lançando-a ao mar, a um rio, enterrando-a numa igreja ou depositando-a em algum oratório de beira de estrada. Em festas solenes, ou como pagamento de alguma promessa, estatuária mais antiga podia ser reformada, talhando-se novos detalhes e realizando uma repintura.[34] É de assinalar necessariamente a magnífica produção de escultura aplicada, no mobiliário entalhado e na talha dourada das igrejas, já bem ilustrada nas seções acima, que chegaram a altos níveis de refinamento e complexidade, como provam os altares de São Bento em Olinda, a Basílica de Nossa Senhora do Carmo e da Capela Douradaem Recife, Nossa Senhora do Ó em Sabará, e em inúmeras outras edificações.

Literatura

Poesia

No campo da poesia, destacam-se o já citado precursor Bento Teixeira, seguido de Manuel Botelho de Oliveira, autor de Música do Parnaso, o primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil, uma coletânea de poemas em português e espanhol em rigorosa orientação cultista econceptista, afim da poesia de Góngora, e mais tarde o frei Manuel de Santa Maria, da escola camoniana. Mas o maior poeta do barroco brasileiro é Gregório de Matos, da grande veia satírica, e igualmente penetrante na religião, na filosofia e no amor, muitas vezes de crua carga erótica. Também fez uso de uma linguagem culta e cheia de figuras de linguagem. Foi apelidado de O Boca do Inferno por suas críticas mordazes aos costumes da época. Na sua lírica religiosa os problemas do pecado e da culpa são importantes, como é o conflito dapaixão com a dimensão espiritual do amor.[38] Veja-se o exemplo do soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor:

Frontispício da edição dasObras Poéticas de Gregório de Matos, 1775.
O padre António Vieira.
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha, a vossa glória.

Prosa

Na prosa o grande expoente é o Padre António Vieira, com os seus sermões, dos quais é notável o Sermão da Primeira Dominga da Quaresma, onde defendia os nativos da escravidão, comparando-os aos hebreusescravizados no Egito. No mesmo tom é o Sermão 14 do Rosário, condenando a escravidão dos africanos, comparado-a ao calvário de Cristo. Outras peças importantes de sua oratória são o Sermão de Santo António aos Peixes, o Sermão do Mandato, mas talvez a mais célebre seja o Sermão da sexagésima, de 1655. Nele não apenas defende os índios, mas também e, principalmente, ataca seus algozes, os dominicanos, por meio de hábil encadeamento de imagens evocativas. Sua escrita era animada pelo anseio de estabelecer um império português e católico regido pelo zelo cívico e a justiça, mas sua voz foi interpretada como uma ameaça à ordem estabelecida, o que lhe trouxe problemas políticos e atraiu sobre si a suspeita de heresia. Defendendo os cristãos-novos foi perseguido pela Inquisição, que o teve preso por dois anos, além de ter-lhe cassado o direito à expressão pública de suas idéias. Banido para o Brasil, encontrou a oposição dos colonos lusos, a quem desagradava que falasse pelos índios.[39] Seu estilo pode ser sentido neste fragmento:

"O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum."[40]

Outros nomes na prosa do período são historiadores ou cronistas, como Sebastião da Rocha Pita, autor de uma História da América PortuguesaNuno Marques Pereira, cujo Compêndio Narrativo do Peregrino da América é considerado uma das primeiras narrativas de cunho literário do Brasil, na forma de uma alegoria moralizante,[41] e o frei Vicente do Salvador, autor da Historia do Brazil, de onde vem este excerto que trata do Descobrimento:

"A Terra do Brasil, que está na América, huma das quatro partes do Mundo, não se descobrio de proposito, e de principal intento; mas acaso indo Pedro Alvares Cabral, por mandado de El Rey Dom Manoel no (ano) de mil e quinhentos para a India por Capitão Mor de doze Naus, afastando-se da costa de Guiné, que já era descoberta ao Oriente, achou estoutra ao Ocidente, da qual não havia noticia alguma, foi a costeando alguns dias com tromenta the chegar a hum porto seguro, do qual a terra visinha ficou com o mesmo nome.
"Ali desembarcou o dito Capitão com seus soldados armados, pera peleijarem; porque mandou primeiro hum batel com alguns a descobrir campo, e derão novas de muitos Gentios, que virão; porem não foram necessarias armas, porque só de verem homens vestidos, e calçados, e brancos, e com barba - do que tudos elles caressem - os tiverão por divinos, e mais que homens, e assim chamando-lhes Carahibas, que quer dizer na sua lingoa cousa divina, se chegaram pacificamente aos nossos." [42]

Música

Mestre Ataíde: Nossa Senhora cercada de anjos músicos, no teto da igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto.
Primeira página da parte vocal da ária daCantata Acadêmica Heroe, egregio, douto peregrino.

música é a arte cuja trajetória durante o Barroco no Brasil é das menos conhecidas e das que deixou menos relíquias. Da produção musical nativa só sobrevivem obras significativas a partir do final do século XVIII, ou seja, quando o Barroco já estava dando lugar às escolas Rococó e Neoclássica. Não que não tivesse havido vida musical na colônia nos séculos anteriores; houve, e importante - embora não possa ser comparada à de outros centros coloniais americanos como o Peru e o México, ou à da própria Metrópole portuguesa - apenas as partituras infelizmente se perderam, mas testemunhos literários não deixam dúvida sobre a intensa atividade musical brasileira desde o início do Barroco, especialmente no Nordeste.[43]

Além disso, a Escola Mineira de música, o mais célebre grupo de compositores do Brasil colonial e o que o grande público conhece mais já não é, como se tem divulgado erroneamente chamando-a de "música do Barroco colonial", uma escola barroca. Apesar de se realizar em um cenário todo barroco, estilisticamente é pré-clássica, e em muitos momentos decididamente classicista, afim das escolas de Boccherini e Haydn. Porém é inegável uma herança barroca mais ou menos velada em sua sonoridade e técnicas, ainda empregando em muitos casos o baixo contínuo.[43]

[editar]Música profana

No campo profano há registros de encenações de óperas italianas - uma voga no século XVIII - em teatros da Bahia (1729, 1760), Rio (1767), São Paulo (1770) e se iam organizando algumas irmandades musicais e orquestras, muitas formadas por mulatos. No final do século XVIII havia mais músicos ativos na colônia do que em Portugal, o que diz da intensidade da prática no Brasil desenvolvida. Destacou-se nesta fase também o portuguêsAntônio Teixeira, que musicou as sátiras do JudeuAntônio José da Silva, de grande difusão e sucesso embora escritas em Portugal.[43]

A primeira partitura vocal profana escrita no Brasil em português que perdurou foi a Cantata Acadêmica Heroe, egregio, douto peregrino, na verdade apenas um par recitativo + ária de um compositor anônimo, que em 1759 saudava em música perfeitamente rococó o dignitário português José Mascarenhas Pacheco Pereira de Mello e deplorava as dificuldades por que ele passara nesta terra. Sua autoria por vezes é atribuída a Caetano Melo de Jesus, mestre de capela na Sé de Salvador e autor também de uma Escola de Canto de Órgão ("canto de órgão" era entendido como canto polifônico), em quatro volumes, que é o mais antigo e mais importante tratado de teoria musical escrito em língua portuguesa de sua época, competindo com os de célebres musicólogos europeus.[43][44] A Cantata merece a transcrição de um trecho do seu texto por ser também um bom exemplo da retórica típica da época:

(…)
"E bem que quis a mísera fortuna,
que vos fosse molesta e que importuna
a hospedagem, Senhor, desta Bahia.
"Sabem os céus e testemunha sejam,
que dela os naturais só vos desejam
faustos anos de vida e saúde,
de próspera alegria, pela afável virtude
de vossa generosa urbanidade,
com que a todos honrais, desta cidade!
(…)
"Oh! Quem me dera a voz, me dera a lira
de Anfião e de Orfeu, que arrebatava os montes
e fundava cidades, pois com elas erigira
um templo que servisse por memória
e eterno monumento à vossa glória!
(…)
"Oh! Se também tivera o canto grave
da filomela doce e cisne suave,
vosso louvor, sem pausa, cantaria,
com cláusula melhor, mais harmonia."[45]

Música sacra

Como grande parte da prática e do ensino era conduzida pelos religiosos, no terreno da música erudita o que mais se produziu foi no gênero sacro, em missasmotetosantífonasladainhas e salmos, seja a cappella, seja para solistas com coro e orquestra. É bem conhecida a participação de índios numa vida musical intensa e de alta qualidade e complexidade técnica em algumas reduções do sul do país, mas este foi um fenômeno isolado; no geral a música praticada pelos missionários entre os índios era bastante simples, e a catequese empregava basicamente o canto homofônico, inserido muitas vezes nas representações teatrais de autos sagrados. Pouco mais tarde foi introduzido um instrumental elementar composto basicamente pelas flautas e as violas de arame.[46] Com o crescimento da colônia se tornou muito mais importante musicalmente o negro escravo. Há inúmeros relatos sobre as orquestras de negros e mulatos tocando com perfeição peças eruditas européias e locais, e boa parte dos maiores compositores do período são igualmente descendentes de escravos, embora traços da cultura original de sua raça não sejam de forma alguma detectados em sua produção, toda orientada para modelos europeus.[43]

Interior do Mosteiro de São Bento, Rio, com o grande órgão barroco sobre o coro.
Missa com música na Igreja de Santo Antônio, do Recife.

Em São Luís, desde 1629 é assinalada a presença de Manuel da Motta Botelho como mestre de capela. O frei Mauro das Chagas trabalhou um pouco antes em Salvador, e depois dele vieram José de Jesus Maria São Paiofrei FélixManuel de Jesus MariaEusébio de Matos e diversos outros, sobretudo João de Lima, o primeiro teórico musical do Nordeste, polifonista, multi-instrumentista e mestre de capela da Sé de Salvador entre 1680 e 1690, e depois assumindo a de Olinda. Uma das figuras principais do auge musical de Salvador foi o frei Agostinho de Santa Mônica (1633-1713), de grande fama quando viveu, e autor de mais de 40 missas, algumas em estilo policoral, e outras composições. Caetano de Melo Jesus, já referido antes, foi outro grande personagem na música da capital baiana.[44]

Os outros centros principais da época, Recife, Belém e São Paulo, só puderam manter uma atividade consistente a partir do século XVIII, e sua qualidade então chegou a um nível que interessou até mesmo musicólogos da Metrópole, sendo diversos autores citados noDicionário de músicos portugueses de José Mazza, entre eles Caetano de Melo Jesus,Eusébio de MatosJosé CostinhaLuís de JesusJosé da CruzManoel da CunhaInácio Ribeiro Noia e Luís Álvares Pinto.[43][44]

Apesar do grande número de músicos atuantes em todo o Nordeste e centro do país durante o Barroco, praticamente toda sua produção desapareceu. De Luís Álvares Pinto, mestre de capela em Recife, fundador de uma Sociedade de Santa Cecília e autor de uma Arte de solfejar e de um Muzico e Moderno Systema para Solfejar sem Confuzão, restam apenas pouquíssimas composições, um notavelmente melódico e fluente Te Deum (as partes instrumentais intermédias se perderam e nas edições modernas foram reconstruídas), umaSalve Regina e os exemplos que deixou em sua Arte de solfejar. A maior parte das partituras remanescentes da música colonial brasileira data da segunda metade do século XVIII. André da Silva Gomes, prolífico compositor, autor de uma Arte explicada do contraponto e mestre de capela da Sé de São Paulo, é um dos autores de quem se conhecem mais obras. Outro de quem sobreviveu um acervo apreciável é Damião Barbosa Araújo, baiano, mas a estética de ambos já esboça um Neoclassicismo.[43]

A produção do integrantes da Escola de Minas é bem mais documentada, mas não pode de fato ser classificada como barroca. Ou é de um rococó que já incorpora muitos traços neoclássicos, ou já é inteiramente classicista. Dentre os que preservam um pouco mais nitidamente soluções formais, técnicas e sonoridades do Barroco está Lobo de Mesquita, possivelmente o maior de todos os mineiros e a quem se atribui a autoria de cerca de trezentas obras, de que sobrevivem quarenta. São bem conhecidas a Antífona de Nossa Senhora (1787), oTractus para o Sábado Santo (1783) e a Missa em si bemol (1783) e diversas outras. Também importantes neste grupo são Francisco Gomes da Rocha, autor de duzentas peças entre elas as estimada Novena de Nossa Senhora do PilarInácio Parreira Neves e Manoel Dias de Oliveira.[43]

Este rico acervo de música colonial, até há pouco mal conhecido e menosprezado, longamente esquecido em arquivos paroquiais, tem recebido atenção de musicólogos e intérpretes desde a atuação precursora de Curt Lange em meados do século XX, e hoje é presença relativamente assídua em concertos no Brasil e no exterior, já possuindo boa discografia por grupos de música de reconstrução histórica. As pesquisas recentes continuam a revelar mais obras dadas como perdidas, enriquecendo o conhecimento moderno sobre um campo onde ainda há muito por resgatar e entender.[43]

  • Manoel Dias de Oliveira: Surrexit Dominus Vere - Moteto da Procissão da Ressurreição (versão instrumental midi)

Teatro

As primeiras manifestações teatrais importantes no Brasil ocorrem na transição do maneirismo para o barroco, e foram realizadas em âmbito religioso, como parte da obra missionária de catequização do gentio. Assim são as peças de José de Anchieta, o maior e praticamente único dramaturgo do século XVI no Brasil, e sua produção se insere na concepção jesuíta de catequese cênica, sistematizada pelo padre Franciscus Lang em sua Dissertatio de actione scenica. Para formular seus preceitos Lang se baseou na tradição teatral italiana, nos antigos autos de mistérios medievais, e nas prescrições dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola, que previa a composição de lugar para melhor eficiência da meditação espiritual. No caso específico de Anchieta, o teatro de Gil Vicente foi outra referência importante.[47]

Representação cênica moderna da Via Crucis diante da Matriz de Pirenópolis, nos mesmos moldes da antiga prática teatral barroca ao ar livre.
Antônio Francisco Soares: Carro alegórico construído no Rio em 1786 para as festividades locais comemorativas do casamento dos Infantes de Portugal.

Os enredos eram em geral retirados da Bíblia e da hagiografia católica, e a história da Paixão de Cristo ao longo da Via Sacra era dos mais importantes. As peças de Anchieta já evidenciam uma das características do teatro religioso do barroco que permaneceria ao longo dos séculos seguintes, o sincretismo, com personagens retirados de vários períodos históricos e misturados a figuras lendárias. No Auto de São Lourenço, por exemplo, aparecem juntos os imperadores romanos Décio e Valeriano, anjos, os santos Sebastião e Lourenço, uma velha, meninos e demônios indígenas, e nesta mistura fica desde logo claro o propósito de "relativizar o tempo e o espaço em função do referencial divino, que é eterno e absoluto. Diante de Deus todas as coisas são concomitantes e, apesar da existência de uma história da salvação, os verdadeiros valores não são históricos ou lineares". No século XVII a forma do teatro sacro se desenvolve, se enriquecem os cenários e acessórios cênicos, e o público-alvo já não é primariamente o índio, mas toda a população.[47]

Ainda não havia teatros, e o local para tais representações era usualmente ao ar livre, nas praças diante das igrejas, ou ao longo das procissões, com o auxílio de cenários móveis instalados em cima de carros alegóricos que acompanhavam o percurso. A encenação contava com a viva participação popular, num movimento integrado entre atores e público, e muitas vezes se fazia uso de marionetes ou imagens sacras de um tipo especial, as estátuas de roca, vestidas como pessoas e articuladas de modo a poderem se adaptar à ação que se desenrolava, e onde desempenhavam um papel evocativo fundamental.[48] Era nessas ocasiões em que o barroco revelava toda a sua força aglutinadora, sua energia extravasante e o poder de seu encantamento:

"Então toda a cidade se move. As imagens desfilam solenes, refletindo as cores de suas tintas, vernizes, pedrarias e tecidos luxuosos, entre massas de velas e rolos da névoa perfumada exalada pelos turíbulos. A multidão adquire forma, organizada na hierarquia de suas funções, lustre e condição social. À frente, os representantes do Rei e da Igreja com suas insígnias e trajes de gala, seguidos dos militares em armaduras, as irmandades e confrarias com seus ícones e estandartes, e a escravaria agregada sob a efígie da Santa Misericórdia. Todos na mesma cadência, marcada pelos coros polifônicos e pelos clamores da fé, gritos, vivas, lágrimas e confissões espontâneas de pecados e vícios inimagináveis. (…)
"À noite se davam as encenações teatrais, recitações, cantos, danças e mascaradas. As coreografias formais dos minuetos e contra-danças nos salões extravasavam para as mouriscas e lundus nas varandas e dali para os congos, batuques e cucumbis nos quintais e terreiros. As danças noturnas se encarregavam assim de dissolver as rígidas segregações hierárquicas longamente ritualizadas durante o dia, reembaralhando as cartas ao acaso dos destinos individuais. Na vertigem dos rodopios e requebros, cada um incorpora o eixo em torno do qual gira o mundo, se lançando ao imprevisto das contingências guiado apenas pela verdade profunda da fantasia".[2]

Ao lado das manifestações sacras, as representações profanas tinham lugar nos festejos públicos oficiais ou populares, que se acompanhavam de cortejos, música e dança, e no entretenimento privado, onde os marionetes eram de uso freqüente e o improviso uma praxe. Salvador foi o primeiro palco desse teatro profano, e logo outros centros como o Rio e Minas também assinalam sua ocorrência. O teatro profano erudito só começaria a aparecer com a construção a partir do século XVIII de diversas casas de espetáculo pelo litoral e em alguns centros interioranos como Ouro Preto e Mariana, que serviam principalmente à representação de peças musicadas, as óperas, melodramas e comédias, e surgiu o desejo de profissionalização do teatro brasileiro, até então de base amadora e popular, e os tablados itinerantes deram lugar ao auditório fixo. O repertório era basicamente importado da Europa, com obras de MolièreCorneilleVoltaire, e as sátiras musicadas de António José da Silva, o Judeu, tiveram enorme popularidade.[49]

Dos teatros barrocos brasileiros o mais antigo ainda existente é a Casa de Ópera de Ouro Preto, de 1770, que é também o mais antigo das Américas ainda em uso. No Rio há registro de teatros mais antigos, como a Casa de Ópera do Padre Boaventura, erguida possivelmente em1747, mas esta não sobreviveu. Contudo os relatos descrevem a riqueza de seus cenários e figurinos, o uso de títeres, e seus complexos maquinismos cênicos, um equipamento essencial à criação dos efeitos especiais tão apreciados na encenação barroca. O próprio padre Boaventura regia os espetáculos. Um outro teatro foi erguido no Rio por volta de 1755, o Teatro de Manoel Luiz; nele se assinala a atividade de um dos primeiros cenógrafos profissionais do Brasil, Francisco Muzzi, e um repertório com peças de Molière, GoldoniMetastasio,MaffeiAlvarenga Peixoto e especialmente as peças do Judeu. Funcionou até a chegada da família real portuguesa ao Brasil.[49]

A herança cênica do barroco perdura até os dias de hoje em expressões populares sincréticas de longa e rica tradição que sobrevivem em diversos pontos do país, como as ladainhas, os congados, os ternos de Reis, e mesmo é visível no moderno carnaval carioca, uma festa associada ao calendário religioso e uma das expressões populares contemporâneas que atualizam a cenografia luxuriante do auge do teatro e das festas barrocas.[2][8]

Recepção crítica

Desde o fins do século XVIII já se ensaiava a introdução da estética neoclássica, e ela logo se tornou o estilo "oficial" do reino através da presença da Missão Francesa de 1816, e desde então outras escolas artísticas se sucederam, fazendo com que a arte do passado fosse gradualmente esquecida e que muitas igrejas e outros monumentos barrocos fossem destruídos ou reformados de acordo com a moda vigente.[6] Outro fator para o descrédito do Barroco foi sua associação com a longa dominação portuguesa, numa fase em que o novo império buscava afirmar-se como nação independente e progressista.[50] Apesar de alguns viajantes estrangeiros do século XIX comoAuguste de Saint-Hilaire e Richard Burton terem admirado as obras de Aleijadinho, ao longo de todo o século a opinião geral sobre o estilo era de desprezo,[51] mas isso não impediu que vários artistas populares, alguns deles com obra significativa, continuassem praticando o Barroco até o fim do século XIX, especialmente em regiões provincianas. Foi o caso do escultor mineiro Joaquim Francisco de Assis Pereira, ativo na área de São João del-Rei e morto em 1893, e de alguns sobreviventes da escola baiana.[52] Uma voz de exceção entre os círculos ilustrados foi o elogio que fez Araújo Porto-alegre aos artistas coloniais da escola fluminense, considerando-os dignos de um lugar honroso na história da arte brasileira, mas é típica a manifestação de Gonzaga Duque, um dos críticos mais influentes do fim do século XIX:

"…a igreja dos jesuítas é uma flagrante prova do mau gosto e da falta de inteligência que presidiam a formação de suas obras. Os mosteiros e conventos foram edificados durante o domínio do estilo barroco, essa brutalidade inventada pelos fundadores da Inquisição. Nem palácios, nem templos suntuosos possuía a colônia. Tudo era acanhadamente dessa natureza".[50]

Um resgate consistente dessa herança só começou a acontecer no início da década de 1920, quando Mário de Andrade realizou os primeiros estudos sobre a arquitetura religiosa mineira, já identificando algumas especificidades da versão brasileira do Barroco e rejeitando a associação do exótico e do pitoresco com o legitimamente nativo. Poucos anos depois abordou a obra de Aleijadinho, enfatizando também aspectos sociais da contribuição negra e mulata para a construção de uma arte que qualificava como "genuinamente nacional".[53] Mas então o conceito de Barroco era mal delimitado e era sujeito a muito preconceito até mesmo na Europa, e as contradições e imprecisões são visíveis nos textos de Mário e de outros autores que também se ocuparam do tema mais ou menos no mesmo período, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.[54]

Aleijadinho: Anjo da Paixão, Santuário de Bom Jesus de Matosinhos.

Na década de 1930 um grupo de intelectuais ligados ao governo federal que se encontrava empenhado em implantar uma política cultural para o Brasil se mobilizou para criar em 1937 o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, antecessor do IPHAN. O líder do grupo e então diretor do SPHAN,Rodrigo Mello Franco de Andrade, procurou delimitar a modernidade brasileira na literatura, nas artes e na política por meio, entre outras coisas, da recuperação do passado colonial. "Contra o passado recente, um salto para trás, para o passado mais 'verdadeiro', onde se podia descobrir e inventar inclusive uma modernidade 'avant la lettre' ". Os principais focos de atuação do SPHAN em suas primeiras décadas de existência foram a identificação e tombamento de um rico acervo de edifícios religiosos (529 itens tombados nos primeiros 30 anos de funcionamento do órgão), o entendimento da importância do legado artístico do século XVIII e, nele, do fenômeno do Barroco mineirocomo central. Nesse momento, a atenção dada aos monumentos coloniais suplantou quase completamente a que receberam os do Império e da primeira República. Além dessas atividades, o SPHAN iniciou a publicação da revistaEstudos Brasileiros e da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde a linguagem e metodologia impressionistas da crítica dos anos anteriores cedeu lugar para abordagens mais científicas, e a partir de então a questão do barroco brasileiro passou a ser uma presença regular nos debates acadêmicos no país.[6][55]

Logo em seguida, na década de 1940, os estudos foram significativamente aprofundados com a contribuição de dois teóricos estrangeiros, a alemã Hannah Levy e do francês Roger Bastide. Levy era versada no Barroco europeu, e publicou em 1941 na Revista do SPHAN o estudo A propósito de três teorias sobre o barroco, que se tornou uma referência para todos os pesquisadores por sistematizar o estado da discussão teórica em nível internacional, cotejando os trabalhos deHeinrich WölfflinMax Dvořák e Leo Ballet, que representavam as três correntes principais de estudo na época, e aplicando essa sua síntese ao caso brasileiro. Ao mesmo tempo Bastide, que fora diretor do Museu do Louvre, se envolveu no assunto e passou a percorrer o interior para pesquisar fontes documentais em velhos arquivos e fazer registros fotográficos. Com seu conhecimento anterior sobre o Barroco europeu e mais esses dados ele pôde estabelecer uma base sociológica do Barroco nacional, desfazer a tradicional vinculação do apogeu econômico do ciclo do ouro com o apogeu artístico mineiro, distinguir entre as escolas regionais do nordeste e de Minas, e traçar suas correlações com o modelo europeu, além de oferecer paralelos entre o Barroco e a produção moderna. As aulas que ministrou naUniversidade de São Paulo atraíram diversos estudantes que mais tarde se tornaram pesquisadores notáveis, como Antonio Candido,Lourival Gomes MachadoDécio de Almeida Prado e Gilda de Mello e Souza, os quais reconheceram que a contribuição de Bastide os auxiliou na focalização de seus próprios estudos sobre a realidade brasileira, além de apresentá-los a uma metodologia intelectual atualizada. Em 1949 Lourival Machado aproveitou a base deixada por Mário, Levy e Bastide para seus onze artigos publicados no jornal O Estado de São Paulo, que foram a primeira análise das relações políticas sociais da arte colonial com o absolutismo português, estabelecendo ainda a legitimidade da apresentação do Barroco mineiro como um exemplo representativo do Barroco brasileiro.[56] A atuação de Lourival Machado foi outro divisor de águas, e a partir dele o Barroco nacional deixou de ser tema de artigos e palestras para ocupar livros inteiros. Ele e mais Afrânio Coutinho e Otto Maria Carpeaux escreveram nas décadas de 1940-1950 diversas obras sobre aspectos gerais e particulares do Barroco,[57] e Bastide deu outra contribuição importante em 1965 com seu livro Classique, Barroque et Rococo, editado na Europa, onde apresentou o Barroco brasileiro como um dos maiores monumentos do Barroco internacional e o Aleijadinho como sua principal expressão.[58] O resultado desses esforços foi que na altura das décadas de 60-70 o Barroco brasileiro se tornara um tópico de grande interesse entre os pesquisadores nacionais e se tornara reconhecido além das fronteiras, um interesse que chegou a causar a perplexidade de Affonso Ávila, que escrevendo em 1969 se perguntava o porquê de tanta curiosidade e tanta paixão pelo assunto naquele momento.[8]

Artesão anônimo de Olinda: São Miguel, obra do século XXI ainda fazendo amplo uso das referências barrocas.

Os críticos mais recentes já não trabalham na linha de uma apologia quase incondicional do Barroco brasileiro como fizeram as primeiras gerações de estudiosos, numa fase em que o estilo surgiu como elemento necessário para a consolidação de uma identidade nacional. Hoje já emergem visões mais abrangentes que procuram apontar também para seus aspectos mais contraditórios, a fim de se formar um panorama mais realista do que o fenômeno artístico-social do Barroco brasileiro de fato representou, e denunciam a continuada apropriação pelo Estado de processos culturais históricos com fins propagandísticos tendenciosos. Hansen diz que se ele

"… fundiu os modelos da cultura européia aos modelos africanos, indígenas e orientais, dando origem à figuração por vezes bastante original de valores locais, (…) a mínima reconstituição histórica das práticas de representação desse tempo evidencia a fortíssima censura, o anti-semitismo, os estereótipos da limpeza de sangue, a desqualificação e a desonra do trabalho manual, a intolerância religiosa, a perseguição das idéias, etc. Evidencia também que (…) a sociedade colonial vivia a história como uma figura providencialista de Deus, que participava nela como fundamento teológico-político da união da Igreja e Estado e regulação jurídica da escravidão".[59]

Porém, em geral não se nega o enorme impacto que o Barroco exerceu na formação da cultura brasileira, nem se ignora o valioso legado artístico que ele deixou e que foi em parte declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO. Ao mesmo tempo, para muitos pesquisadores a herança barroca permanece viva no cotidiano do brasileiro, expressa de uma variedade de formas artísticas, sociais e folclóricas e definindo uma maneira de ser que se confunde com a própria noção de brasilidade.[2][8]

Ver também

Referências

  1.  Costa, Maria Cristina Castilho. A imagem da mulher: um estudo de arte brasileira. Senac, 2002. pp. 55-56
  2. ↑ a b c d Sevcenko, Nicolau. Pindorama revisitada: cultura e sociedade em tempos de virada. Série Brasil cidadão. Editora Peirópolis, 2000. pp. 39-47
  3. ↑ a b c d e f Barroco brasileiro. Enciclopédia Itaú Cultural
  4.  Caminha, Pero Vaz de. Carta a el-Rei Dom Manuel. Wikisource
  5.  Sant’anna, Affonso Romano de. Citado por Neves, André Lemoine, in A arquitetura religiosa barroca em Pernambuco – séculos XVII a XIX. Portal Vitruvius
  6. ↑ a b c Costa, pp. 53-54
  7.  Laudelino Freire, fonte fundamental para o estudo da arte acadêmica brasileira, despreza como insignificante tudo o que se fez em arte antes da Missão Francesa [1]
  8. ↑ a b c d Corrêa, Alexandre Fernandes. Festim Barroco. Ensaio de Culturanálise da Festa de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes/PE. São Luís: UFMA, 2009. pp. 34-35
  9.  Costa. p. 63
  10.  Costa. pp. 63-64
  11.  Tirapeli, Percival. A Igreja como Centro Irradiador de Cultura no Brasil Colonial. IN Tirapeli, Percival (ed). Arte Sacra Colonial: barroco memória viva. UNESP, 2005. pp. 8-11
  12.  Araújo, Emanuel. O Universo Mágico do Barroco Brasileiro. IN Araújo, Emanuel (curador). O Universo Mágico do Barroco Brasileiro. Catálogo de exposição. São Paulo: SESI, 1998.
  13.  Araújo. p. 18
  14.  Oliveira, Lúcia Lippi. Cultura é patrimônio: um guia. FGV Editora, 2008. p. 17
  15.  Araújo, pp. 16-17
  16.  Frade, Gabriel. Arquitetura sagrada no Brasil: sua evolução até as vésperas do Concílio Vaticano II. Edições Loyola, 2007. pp. 51-59
  17. ↑ a b c Frade. pp. 60-64
  18.  Souza, Alberto. Igreja franciscana de Cairu: a invenção do barroco brasileiro. Portal Vitruvius
  19.  Telles, Augusto C. da Silva. O Barroco no Brasil: Análise da bibliografia crítica e colocação de pontos de consenso e de dúvidas. IN Araújo. Op. cit. p. 69
  20.  Oliveira, Myriam A. R. de. A Arquitetura e as Artes Plásticas no Século XVIII Brasileiro. IN Araújo. Op. cit. p. 78.
  21.  Frade. pp. 66-68
  22.  Bazin, Germain. Citado por Oliveira, Carla Mary da Silva, in A glorificação dos Santos franciscanos do Convento de Santo Antônio da Paraíba: Algumas considerações sobre pintura, alegoria barroca e produção artística no período colonial. Fênix - Revista de História e Estudos Culturais. Vol. 3, ano III, nº 4. Out/dez de 2006.
  23.  Rodrigo Espinha. Ouro Preto: Cidade Barroca. Universidad Pablo de Olavide, Sevilha
  24.  Casimiro, Ana Palmira Bittencourt Santos. A redescoberta do Barroco Brasileiro e os desafios da pesquisa em um arquivo colonial. Unicamp.
  25.  Telles, Augusto Carlos da Silva. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. MEC/SEAC/FENAME. 1980. pp. 232-235
  26.  Bury, John B. The "borrominesque" churches of colonial Brazil. The Art Bulletin. v.37 n.1, 1955
  27.  Oliveira, Myriam Andrade Ribeiro de. O rococó religioso no Brasil. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. pp. 221-231
  28.  Miranda, Selma Melo. Nos bastidores da Arquitetura do Ouro: Aspectos da produção da Arquitetura Religiosa no século XVIII em Minas Gerais. Actas del III Congreso Internacional del Barroco Americano: Territorio, Arte, Espacio y Sociedad. Universidade Pablo de Olavide, Sevilha
  29.  Costa. pp. 65-68
  30. ↑ a b c Valladares, Clarival do Prado. Notícia sobre a pintura religiosa monumental no Brasil. IN Araújo. Op. cit. p. 200
  31.  Costa. pp. 60-61
  32.  Gouvêa, Fernando da Cruz. Maurício de Nassau e o Brasil Holandês. Editora Universitária UFPE, 1998. pp. 143-149
  33. ↑ a b c Louzada, Júlio. Os Primeiros Momentos da Arte Brasileira.
  34. ↑ a b c Batista, Marta Rossetti. Coleção Mário de Andrade: religião e magia, música e dança, cotidiano. EdUSP, 2004. pp. 65-66
  35. ↑ a b Oliveira, Myriam Andrade Ribeiro de. A Escola Mineira de Imaginária e suas Particularidades. IN Coelho, Beatriz. Devoção e arte: imaginária religiosa em Minas Gerais. EdUSP, 2005. pp. 15-26
  36.  Coelho, Beatriz. Materiais, Técnica e Conservação. IN Coelho, Beatriz. Devoção e arte: imaginária religiosa em Minas Gerais. EdUSP, 2005. pp. 238-241
  37.  Flexor, Maria Helena Ochi. Imagens de Roca e de Vestir na Bahia. Revista OHUN, Ano 2, nº 2. 2005. Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia
  38.  Bosi, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. Cultrix, 2001. pp. 36-43
  39.  Bosi. pp. 43-46
  40.  Vieira, Pe. Antônio. Sermão da Sexagésima. Wikisource
  41.  Bosi. pp. 46-47
  42.  Salvador, Fr. Vicente do. Historia do Brazil. Livro Primeiro, Capítulo Primeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1889
  43. ↑ a b c d e f g h i Mariz, Vasco. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.pp 33-47
  44. ↑ a b c Castagna, Paulo. A Produção Religiosa Nordestina e Paulista no Período Colonial e Imperial. Instituto de Artes da UNESP [2]
  45.  Coro e Orquestra Armonico Tributo. Livreto do CD América Portuguesa, 1999
  46.  Corrêa, Sérgio de Vasconcellos. Música Colonial Brasileira: barroco (?) brasileiro. IN Tirapeli, Percival. Arte sacra colonial: barroco memória viva. UNESP, 2005. p. 242
  47. ↑ a b Karnal, Leandro. Teatro da Fé: Formas de Representação Religiosa no Brasil e no México do Século XVI São Paulo, Editora Hucitec, 1998.
  48.  Flexor, Maria Helena Ochi. Imagens de Roca e de Vestir na Bahia. Revista Ohun. Ano 2, nº 2, 2005. Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA.
  49. ↑ a b Lima, Evelyn Furquim Werneck. Arquitetura e dramaturgia: modelos iluminados da Corte refletidos na Casa de Ópera de Vila Rica e no Real Teatro São João (1770 – 1822). III Colóquio do Pólo de Pesquisa das Relações Luso-Brasileiras do Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura. 24-26 de abril de 2006.
  50. ↑ a b Cavalcanti, Nireu Oliveira. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte. Zahar, 2004. pp. 298-300
  51.  Gomes Júnior, Guilherme Simões. Palavra peregrina: o Barroco e o pensamento sobre artes e letras no Brasil. Volume 16 de Ensaios de cultura. EdUSP, 1998. pp. 48-50
  52.  Oliveira, Myriam Andrade Ribeiro de. A Imagem religiosa no Brasil. In Aguilar, Roberto (org). Mostra do Redescobrimento: Arte Barroca. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo / Associação Brasil 500 Anos, 2000. p.65
  53.  Peixoto, Fernanda Arêas. Diálogos brasileiros: uma análise da obra de Roger Bastide. EdUSP, 2000. pp. 61-62
  54.  Gomes Junior. pp. 54-60
  55.  Pontes, Heloisa. Destinos mistos: os críticos do Grupo Clima em São Paulo, 1940-68. Companhia das Letras, 1998. pp. 25-26; 40
  56.  Pontes, pp. 27-33
  57.  Gomes Júnior. pp. 76-77
  58.  Chacon, Vamireh. Deus é brasileiro: o imaginário do messianismo político no Brasil. Editora Record, 1990. p. 65
  59.  Hansen, João Adolfo. Barroco Brasileiro, Petit Palais & Ruína. IN Prado, Maria Lígia Coelho & Vidal, Diana Gonçalves. À margem dos 500 anos: reflexões irreverentes. Volume 7 de Estante USP-Brasil 500 anos. EdUSP, 2002. p. 236